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Impacto dos jogos nas comunidades negras



No Brasil, onde mais de 70% das pessoas em situação de pobreza são negras ou pardas, as apostas online se tornaram uma nova ameaça para as comunidades vulneráveis. Em uma audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministério da Igualdade Racial declarou que, somente em agosto de 2024, cerca de 3 bilhões de reais do programa Bolsa Família foram usados em apostas via sistema Pix. Esse dinheiro deveria ajudar os mais necessitados, mas acabou sendo gasto em plataformas de jogo.

Quem está em risco?

“72,8% dos beneficiários do programa Bolsa Família são pessoas negras e pardas. Elas também representam mais de 70% da população pobre do país. As apostas agravam ainda mais essa realidade”, afirmou Ana Maria Carvalho, representante do ministério.

A população negra, que já enfrenta dificuldades econômicas, acaba sendo um alvo fácil para as apostas. Muitos enxergam nelas uma chance de melhorar rapidamente de vida, mas, na maioria das vezes, isso leva apenas a novas dívidas e frustração.

A situação nos países vizinhos é diferente. A proporção de população negra na Argentina, no Uruguai e especialmente no Chile é baixa. No entanto, os habitantes desses países também participam ativamente de jogos de azar. Os dados apresentados aqui mostram um grande número de cassinos online no Chile. Dezenas de operadores oferecem milhares de opções de entretenimento. Mas, embora para a maioria das pessoas esses jogos não representem um risco, uma parcela da população é vulnerável ao vício. Por isso, é possível afirmar com segurança que o problema é relevante independentemente da raça ou grupo étnico.

Um mercado sem regras

O problema é que o mercado de apostas, apesar de legalizado, não é devidamente regulamentado. “Hoje, cerca de 4 mil sites de jogos operam no Brasil, muitos deles associados a fraudes. A ausência de normas criou um sistema fora de controle. Os jogos precisam ser seguros e não podem destruir famílias”, declarou Pietro Cardia, advogado da Associação Nacional de Jogos e Loterias.

Especialistas apontam que a falta de controle facilita a atuação de operadores inescrupulosos, que promovem ativamente seus serviços entre pessoas de baixa renda.

As audiências no STF foram iniciadas pelo ministro Luiz Fux. O motivo foi uma ação que pede a declaração de inconstitucionalidade da lei que regulamenta as apostas. O partido Solidariedade e a Confederação Nacional do Comércio argumentam que essa lei estimula o endividamento, o vício em jogos e o acesso de menores às apostas.

O que pode ser feito?

Especialistas insistem que medidas urgentes são necessárias. A regulamentação do mercado, a proteção dos grupos vulneráveis e a proibição do acesso de menores de idade são passos fundamentais. Enquanto isso, milhões de brasileiros — especialmente os afrodescendentes — continuam enfrentando as consequências do crescimento descontrolado das apostas online.









































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