Un eterno viaje

A trajetória do artista cubano, Jorge Mayet, é pontuada por deslocamentos e paragens, desde que saiu de seu país, em 1993. Estudou bacharelado em pintura e mestrado em Artes Visuais, na Academia Nacional de Belas Artes San Alexandro, em Havana. Seu trabalho está diretamente relacionado às memórias que marcaram o seu passado em Cuba e que influenciam o seu presente até os dias de hoje. Sem perder o impacto das imagens criadas, seu trabalho teve um desdobramento natural a partir da tridimensionalidade das esculturas e instalações.

Elementos presentes desde as suas primeiras pinturas, iniciadas aos doze anos de idade, e notadamente objeto de estudo e inspiração para suas criações, as árvores de ceiba e as residências rurais erguidas com troncos de palmeira e palha, formam paisagens realísticas ou poéticas. Se por um lado, estas choupanas típicas do Caribe, chamadas de bohío, evocam os seus laços familiares, de outro, as ceibas remetem ao sentimento de fé herdado das religiões de matriz africana, que aportaram nas Américas no período escravocrata. Testemunho de suas experiências, os trabalhos se constituem como projeções de suas lembranças, proporcionando ao observador a oportunidade de transitar metaforicamente pelas raízes de sua terra natal.

Em “Un eterno viaje”, instalação que foi remontada especialmente para ser exibida na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, estas pequenas choupanas realizam um vôo simbólico por meio de galhos que saem de seus telhados, onde das extremidades brotam plumagens de coloração azul turquesa e de seu piso suspenso são reveladas as raízes que um dia fixaram estes bohíos no solo. É neste trabalho que o artista mistura casa com árvore, os dois elementos que lhe são mais caros em sua pesquisa artística.

De acordo com Jorge Mayet, realizar esta instalação, neste local onde se encontram os restos mortais de tantos africanos escravizados, é de uma carga espiritual e de um simbolismo muito poderoso, onde as duas culturas (brasileira e cubana) se unem para falar uma mesma língua. Nesta exposição, ele reitera todo o respeito que tem por sua origem e reverencia a sua ancestralidade.

Marco Antonio Teobaldo
curador

Detalhe da instalação de Jorge Mayet.

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