Arqueologia

[:pb]1996
Após a descoberta do sítio arqueológico, foi realizada uma investigação inicial, pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e pelo Instituto de Arqueologia Brasileiro (IAB) para identificar de quem era os restos humanos encontrados e confirmar se poderiam ser realmente do Cemitério dos Pretos Novos. Foram resgatados ossos humanos, inteiros e fragmentados, de cerca de 29 indivíduos, assim como fragmentos de louças, restos de metais, contas de colares e outros objetos descartados no subsolo, de uso cotidiano no século XIX.

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2011
Na segunda investigação, já com o projeto vinculado ao programa do Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional – UFRJ, buscou-se identificar o perímetro da necrópole para fins de proteção patrimonial. Além dos materiais encontrados em 1996, após seis meses de pesquisa e operação de limpeza e higienização, os arqueólogos identificaram na superfície do sítio pedras de uso ritual e restos de comida, ossos de peixes, aves e bovinos. Ainda durante a pesquisa e o monitoramento de obras, com o intuito de corrigir uma rachadura no piso, na altura da porta principal, para a primeira exposição do Museu Memorial Pretos Novos, os operários deslocaram uma placa de cimento que, ao ser removida, revelou mais fragmentos de ossos humanos, espalhados pelo subsolo. Concluiu-se que todos os dados históricos conhecidos até então, puderam ser corroborados: o cemitério era caótico, com restos humanos aparentes na superfície e enterros sendo realizados à flor da terra. As pesquisas também revelaram que há indício de uso do fogo para consumir os corpos e reduzir o volume dos restos mortais, além de identificarem os primeiros indícios de que os enterramentos deveriam ser realizados de forma coletiva.

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2014
Neste ano, foi feito o acompanhamento de obras de infraestrutura urbana, em toda a extensão da Rua Pedro Ernesto e arredores, a fim de confirmar as informações obtidas através de sondagens arqueológicas. Era, naquele momento, importante resgatar quaisquer indícios que pudessem ter passado despercebido dos processos de sondagens, realizados em 2011 e 2012. O período de investigação arqueológica foi de um ano, com um ano de pesquisa de campo e de trabalho de laboratório. Aproveitou-se a obras de implantação do VLT (Veículo Leve sobre Trilho) para regatar todo e qualquer fragmento oriundo do Cemitério dos Pretos Novos.
Aquarelas de reconstrução do local

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2017
Nesta nova fase da investigação arqueológica, cuja pesquisa científica é mais uma vez vinculada ao Museu Nacional – UFRJ e ao Programa de Pós-graduação em Arqueologia PPGArq, busca-se conhecer a forma como os Pretos Novos eram enterrados e saber até que profundidade alcançava o cemitério. Também há indícios da existência de algum rito funerário especial, para os africanos, feito pelos seus conterrâneos. As investigações científicas procuram entender os impactos negativos das construções de residências sobre a necrópole, construções que se iniciaram cerca de 30 anos após o encerramento das atividades do Mercado de Escravos do Valongo. Somente 21 anos após a descoberta do sítio arqueológico é que foi encontrado um esqueleto inteiro, que pertenceu a uma jovem de aproximadamente 20 anos, carinhosamente batizada de Bakhita pelos pesquisadores. Os restos mortais desta jovem se transformaram em um ícone da luta pela valorização da História dos africanos escravizados e pelo reconhecimento e respeito aos Pretos Novos e aos afrodescendentes.

Hoje, Bahkita se encontra preservada para a exposição pública, por solicitação dos movimentos sociais, e se tornou símbolo da luta contra o apagamento da memória da escravidão e do sofrimento impostos aos africanos e seus descendentes, sendo ainda um símbolo de ancestralidade e da luta contra o preconceito racial.

>inserir imagem[:en]>Dentre os 5.563 fragmentos encontrados nas escavações do sítio arqueológico Cemitério dos Pretos Novos, a análise antropológica e biológica dos ossos não cremados, apesar das condições precárias nas quais foi feito o salvamento, permitiu identificar 28 corpos, em sua maioria de jovens do sexo masculino, com idades entre 18 e 25 anos.

Mais da metade apresentava marcas de cremação – fator curioso que determina mudanças nos aspectos da coloração, da textura das superfícies e da morfologia dos ossos. Este processo era feito para agilizar os sepultamentos, já que eles ficavam muito tempo expostos, esperando o enterro.

Estudos mais detalhados estão sendo realizados objetivando conhecer melhor os processos de cremação dessa época e a maneira como eram efetuadas.

Outra importante descoberta foi a presença de entalhes nos dentes da arcada superior dos crânios encontrados, o que indicava a procedência africana dos indivíduos ali enterrados. Esta prática era efetuada em jovens entre 14 e 20 anos, ainda em vida, que modificavam intencionalmente a forma de seus dentes para cumprirem ritos cerimoniais de iniciação, identificação tribal ou por puro embelezamento.

É possível afirmar que as lesões ósseas das amostras foram provocadas por fraturas, infecções, anemias e algumas degenerações. A exemplo de um caso raro de um indivíduo adulto que apresentava deformações nos dedos dos pés, comprovou-se que, enquanto vivo, manteve-se de joelhos longos períodos. Pode-se especular a hipótese de se tratar de um muçulmano.

Do ponto de vista dentário, foi constatado também que a população presente na amostragem possuía boa dentição, com baixa incidência de cáries.

Aquarelas de reconstrução do local

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