Moradas

Moradas

 

A artista visual Angela Câmara Correa é paulistana e vive há mais de 20 anos na Alemanha, onde trabalha como professora e desenvolve sua pesquisa e boa parte da produção artística, que trata de questões da sua memória afetiva. Fazendo uso de técnicas variadas, como desenho, pintura, escultura, bordado, fotografia e assemblages, a artista cria um repertório que, de uma forma ou de outra, remonta algumas passagens de sua vida ou de seus familiares.

Este vínculo com as suas origens a estimula a vir periodicamente ao Brasil, mais precisamente na região Amazônica, para participar de projetos sociais junto às populações ribeirinhas e germinar novas propostas de trabalhos artísticos. “Toalha de viagem” é uma obra criada a partir da toalha de mesa herdada de sua família alemã e que viaja com ela para os mais remotos cantos para, junto com os moradores locais, compartilhar momentos de conversas ou até mesmo refeições, enquanto fluem os bordados em linha vermelha. A partir deste mesmo princípio, em março deste ano, Angela depositou sobre a mesa de leitura da biblioteca do IPN uma toalha de mesa que ganhou do hotel onde estava hospedada e deixou novelos de linha vermelha e um conjunto de agulhas para quem quisesse deixar algum registro.

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea realiza pela primeira vez, desde a sua fundação, uma exposição cujas principais obras exibidas foram criadas com a participação de seus visitantes. É o caso de “Moradas”, concebida com uma grande quantidade de rosas, cujos caules foram cortados e reunidos com alfinetes, formando pequenas armações em formatos de casas. Uma parte destes objetos é justaposta na parede e o restante, é pendurada por fios de nylon descendo do teto. De acordo com a artista, este trabalho foi idealizado a partir da sua necessidade de oferecer simbolicamente algum tipo de morada para os Pretos Novos.

A instalação “Sopro” é composta por uma escultura em gesso, feita a partir da técnica de modelagem com a cabeça da artista e enterrada em um grande volume de sal grosso disposto no chão da galeria. A obra sugere que a partir da representação do corpo deitado da artista, como se tivesse aspirando o ar para cima, impulsionasse uma matéria etérea de suas moradas para o alto.

A partir da pergunta “O quê nos une?” um grupo de pessoas convidadas pela artista respondeu individualmente com bordados em linha vermelha em voil. Razão pela qual, muitos deles estão escritos em português e alemão, reunindo mais de 500 participantes, desde a sua concepção, iniciada em 2003.

Composições criadas a partir de registros fotográficos encontrados nos álbuns da família da artista, reiteram este delicado tratado de sua ancestralidade com a série “Enlaços”. Bordados que lembram acabamentos de panos de prato, reúnem retratos com as três últimas gerações de mulheres (avó, mãe e ela mesma). Enquanto que em “Entrelaços”, imagens do casal de avós maternos são cobertas por um papel transparente, com impressões de sombras de flores e folhas.

Os vestígios de memórias da artista se materializam com a sua surpreendente capacidade de preservar e ressignificar objetos pessoais, que são verdadeiras relíquias de seu passado, como o vestido de noiva de sua avó, exibido ao lado da sua roupa de batizado, na instalação “Ser em ser”. Com as marcas deixadas pelo tempo, estas duas peças de vestuário cerimonial religioso evocam a resistência da matéria frágil e o reencontro de histórias.

 

artist | artist

  • Angela Câmara Correa

curadoria | curatorship

  • Marco Antonio Teobaldo

coordenação geral | general coordination

  • Merced Guimarães dos Anjos
16 de Out a 01 de Dez de 2018 / <em>Oct 16th to Dec 01th 2018